Os instrumentos da morte dessas narrativas revelam mais sobre os seus portadores que a respeito de suas próprias naturezas de objetos letais. Em 14 flashes, o leitor é levado num trajeto vertiginoso, uma descida pelo buraco onde o coelho branco de Alice se enfia, e que vai dar nos pequenos infernos, subjetividades que colidem com o mundo, permitindo uma visada do cotidiano por outra lente, em que contradições, pequenas e grandes violências, o atrito habitual com o mundo, fazem estremecer a superfície. Chamá-los de flashes indicam seu caráter iluminador. Quem carrega uma lanterna pelos desvãos do inferno? Narrativas econômicas e nítidas, esses contos de natureza híbrida estão ali na fronteira entre a prosa e a poesia, não apenas pela feliz escolha da apresentação em versos, mas por uma potência rítmica e imagética que borra as bordas desses gêneros. Entre arcos e flechas, revólveres e tacapes de plástico, a linguagem original e imaginativa de Alexandre Boide constrói uma pequena obra-prima.