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Não é difícil prever que este livro está destinado a ter muito impacto, porque dá elementos de tipo singular para avaliar o papel da nossa Força Aérea na Campanha da Itália durante a Segunda Guerra Mundial, do ângulo muito vivo de um jovem tenente aviador da reserva.
Fernando Corrêa Rocha era um alegre estudante de Direito na Universidade de São Paulo quando passou de um curso local de pilotagem para o treinamento rigoroso de piloto de caça nos Estados Unidos, incorporando-se a seguir à FAB e nela cumprindo com distinção, 75 missões de guerra.
Eu o conheci bem desde os tempos em que foi meu calouro no Largo de São Francisco. Convivemos bastante e pude apreciar como era companheiro agradável, inclusive devido à grande musicalidade que o fazia entoar canções, marchas, sambas, foxes com voz afinada, além de brilhar na harmônica com perícia de virtuose. Tinha muito senso de humor e um toque de boemia, era sereno mas dotado de grande coragem, própria de sua família. Muito sociável e invariavelmente leal, sabia aglutinar os amigos em torno de si, sempre disposto a ajudá-los, quando fosse o caso. As amizades que formou foram sólidas e afetuosas.
Estes traços se refletiram em sua atuação como piloto na guerra, não apenas marcada pelo constante arrojo, mas também pelo espírito de equipe e a alegria que caracterizava a sua camaradagem. Foi ele um dos autores principais da letra e da música da impagável ópera composta no 1º Grupo de Caça por meio de colagem de textos de melodrama italiano e canções populares, alegre realização de retaguarda daqueles rapazes que expunham a vida diariamente mas não perdiam a alegria de viver e o bom humor.
As cartas publicadas aqui têm valor singular como documento sobre a guerra aérea e como revelação de uma personalidade timbrada pelo poder de decisão que destaca os líderes. Elas são despretensiosas, tendo a espontaneidade de quem deixa a pena correr sem segundas intenções, guiada pela naturalidade própria do diálogo com os pais. Sente-se que nem por um momento Fernando está pressupondo algum leitor estranho, e pelo resto da vida nunca lhe ocorreu a ideia de publicá-las. É com sinceridade por assim dizer em estado de pureza que vai relatando os pormenores do dia a dia, a natureza do seu aprendizado específico e, depois, as ações de guerra nas quais se envolveu, desde a rotina até os momento dramáticos.
Do mesmo modo que o livro Mina R, do cabo Roberto de Mello e Souza, para a atuação da FEB vista de um ângulo pessoal, estas cartas são um testemunho que faz sentir a atuação- da FABcom um toque insubstituível de experiência vivida. Elas são a emocionante fé de ofício de um herói discreto. Antonio Candido