“Alberto Silva foi atirado a um cárcere absolutamente escuro. O cheiro de latrina misturado ao mofo dava ao local um ar insuportável. É que ali não havia banheiro. nem cama. nem janela. Um monte de feno ensanguentado e uma lata com fezes pela metade lhe serviriam de leito e sanitário. Parecera-lhe um cômodo destinado. originariamente. a guardar entulhos. que o novo regime reaproveitava para castigar presos políticos. Ao longo do primeiro dia ele urrou. socou todas as paredes e a grossa porta de aço. mas ninguém lhe dera ouvidos. Então. desistiu. Sem que pudesse distinguir entre a noite e o dia. não conseguia saber por quantas horas dormia. quando dormia. Depois. passou a calcular o tempo pelo movimento de uma portinhola que se abria de vez em quando. para lhe deixarem água e angu com pedaços de carne. Quando a luz penetrava com maior força por aquela fresta. julgava que era manhã; quando mais fraca. seria o entardecer. No início ele até comia. embora o cardápio fosse sempre o mesmo. Aos poucos. entretanto. foi perdendo a força e a vontade de lutar.”23